Marega: "Não são as t-shirts com slogans contra o racismo que vão mudar as coisas"

Moussa Marega foi decisivo para o pleno de vitórias sobre os rivais, mas endossa o rótulo de herói para o coletivo portista. Maliano recorda ainda o episódio de Guimarães que correu o mundo.

Antes da covid-19 ter deixado o futebol e o Mundo em suspenso, era do internacional maliano que se falava. Em entrevista exclusiva ao JN, Marega regressou a Guimarães, ao momento em que foi alvo de insultos racistas. A esta distância, lamenta a falta de atos para pôr fim ao racismo, tema que voltou em força e está a dividir a sociedade portuguesa. Mas a época também teve momentos felizes, com a dobradinha à cabeça.

Consegue identificar o segredo da boa época do F. C. Porto?

Não faço a menor ideia! O que sei é que uma das coisas mais importantes foi que o grupo esteve muito unido, do início ao fim. Sabíamos que era uma época difícil, por causa de todas as críticas que recebemos e também pelo atraso pontual que tínhamos, mas nunca deixámos de estar concentrados e isso foi importante para conseguirmos chegar ao título. Estivemos unidos e concentrados. E fomos profissionais até ao fim.

Em termos pessoais, esta foi a melhor época da carreira?

Coletivamente, sim, isso é certo. Ganhámos dois troféus. Mas, individualmente, não acho que tenha sido a melhor época. Sofri bastante durante quase toda a temporada, mas, por fim, consegui despertar e marcar golos.

Há quem não goste muito do seu estilo de jogo. O que gostava de dizer a essas pessoas?

Não tenho nada a dizer-lhes. É futebol, é o jogo. Há pessoas que gostam de jogadores mais técnicos, outras que gostam de defesas que só dão porrada. Cada pessoa tem o seu estilo de jogo ou estilo de jogador preferidos. Por isso, não posso nem tenho absolutamente nada a dizer-lhes. O mais importante, para mim, é marcar golos. Não estou para dar espetáculo ou para fazer levantar a multidão ou fazer gestos técnicos uns atrás dos outros. O que conta são as estatísticas. Isso, para mim, é o mais importante. E a partir do momento em que metes golos e não sofres... É a coisa mais importante do futebol. Se a tua equipa joga bem e tu não marcas e não ganhas, não serve de nada jogar bem. Portanto, para mim, o importante é ser decisivo em termos estatísticos.

As estatísticas mostram que marcou golos em três dos quatro clássicos da Liga. Sente-se o terror do Benfica e do Sporting?

Nada disso. Abordo cada jogo a pensar que é o mais importante e sei que cada jogo é diferente. Um clássico também é diferente de um jogo normal. E por muito que o consideremos um jogo como os outros, um clássico é um clássico. E este ano os clássicos correram-me bem. Estou orgulhoso disso. E mesmo em relação à equipa, correu muito bem. Ganhámos os cinco clássicos que disputámos. Mostrámos que somos a melhor equipa. E eu não sou nada o terror do Benfica ou do Sporting. O terror deles é o F. C. Porto.

Também marcou um golo de livre ao Moreirense. Treina muito esse tipo de lances?

Falou-se muito. De facto, é raro, porque foi de livre direto. Graças a Deus, a bola entrou, mas não é habitual treinar muito os livres. Às vezes, sucede-me treinar um pouco mais. E meto alguns. Nesse jogo, foi uma igual às que meto nos treinos. Foi isso.

Qual foi o golo mais importante que marcou esta época?

Foi o golo em Guimarães. Bem, depois sabem o que se passou... Mas penso que foi um golo importante. Estava 1-1, eles tinham conseguido chegar ao empate e consegui marcar o 2-1. Foi um jogo decisivo para nós, porque é muito difícil ganhar em Guimarães.

À margem do golo, sente que o que se passou em Guimarães pode ter ajudado a mudar algumas mentalidades?

A certas pessoas, o que se passou em Guimarães mudou-lhes a mentalidade, mas, à generalidade, não se sabe se mudou ou não, porque ainda não se conhece qualquer sanção. Não sei o que se passa. Já não se fala disso, mas o certo é que a partir do momento em que sucedeu, aquilo deu a volta ao Mundo. Foi muito importante, porque se falou disso em todo o lado, mas não são as bandeirolas ou as t-shirts com slogans contra o racismo que vão mudar as coisas. Até agora, nada mudou. Pelo menos eu não recebi nenhuma notícia a esse respeito. Espero para ver.

O episódio teve repercussão em todo o Mundo. Sente que é uma bandeira na luta contra o racismo?

Na altura do incidente, houve uma grande publicidade. Senti muita gente envolvida e comprometida. Senti o apoio das pessoas. Foi um choque verificar a forma impressionante como as coisas deram a volta ao Mundo. E deu-me algum prazer saber que as pessoas consideram o incidente pior do que um insulto. Foi importante, mas não é com slogans que as coisas podem mudar. É com atos.

Pela primeira vez, com Sérgio Conceição a treinador no F. C. Porto, Marega não superou a fasquia dos 20 golos, mas marcou alguns muito importantes, sobretudo nos clássicos do campeonato com o Benfica e o Sporting. Agora, tudo indica que continuará a faturar pelo clube, muito provavelmente com um novo contrato, uma vez que o atual finda a 30 de junho de 2021.

Fonte: www.jn.pt 

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